terça-feira, 16 de setembro de 2014

Cozinha Pantaneira: as delícias do Centro-Oeste do Brasil

Por Jéssica Barra e Daniel Victor


Quando se fala dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul logo se remete ao Pantanal mato-grossense, maior planície inundada do mundo, que de tão importante hoje é considerado Patrimônio Natural da Humanidade. Conhecido por sua característica de terra tranquila, de canto de pássaros e modas de viola, tem como principal figura o boiadeiro, que guia as muitas e vastas criações de gado.

A região tem forte influência de paraguaios e bolivianos, no que diz respeito aos países próximos. Portugueses, indígenas, africanos e asiáticos completam as principais influências externas, além da contribuição também dos migrantes, principalmente paulistas, cariocas, mineiros e sulistas.

A região pantaneira, por ter uma grande diversidade de peixes em seu território, explora bastante esse recurso na sua cozinha. Pintado, piraputanga, curimbatá, pacu e dourado são apenas alguns dos principais pescados utilizados, das mais diversas formas: assados, guisados, com farofa e banana. Até a piranha não escapa: dela se faz um caldo típico, que serve de entrada para peixadas e churrascos, e que muitos dizem ter poder afrodisíaco.



Mojica de pintado (ensopado com mandioca)

E tratando-se de banana, esta se faz presente em lugar de destaque na cozinha pantaneira. É costume a banana-da-terra aparecer em diversas preparações da região, seja como acompanhamento em uma farofa, frita em rodelas como tira-gosto, ou em sobremesas. O charque também é bastante apreciado por lá, sendo ingrediente principal do arroz-de-carreteiro, um dos pratos mais conhecidos da região. Não só o charque, mas o costume de consumir carne num geral trazido pelos sulistas foi absorvido pela população pantaneira, destacando-se o churrasco, muitas vezes acompanhado de tereré, uma espécie de chimarrão com água gelada, servido em chifre de boi.


Arroz-de-carreteiro

Os paraguaios deixaram duas marcas importantes e bastante consumidas nas terras do Pantanal: a chipa (uma espécie de pão de queijo produzida em forma de ferradura) e a sopa paraguaia, que de sopa não tem nada. Trata-se de uma torta de fubá, milho, cebola e queijo, que originalmente tinha a forma líquida, e era levada aos campos de batalha pelos soldados na Guerra do Paraguai. Porém, como era difícil o transporte de tal alimento naquela situação, os mesmos foram adicionando mais fubá até que se tornou a torta que conhecemos hoje. Os bolivianos também tem sua contribuição, sendo a principal a saltenha boliviana, um tipo de empanada recheada com carne. Os japoneses trouxeram seus costumes alimentares que são bem apreciados também, mas deixaram uma marca tão forte que esta se incorporou a tradição local como se fosse realmente fruto da terra: o sobá. É comum ver pelas ruas dos estados de MT e MS as famosas sobarias, especializadas neste prato japonês.


Sopa Paraguaia


Sobá

Outra tradição da região é o Quebra-Torto, um tipo de café da manhã que mais parece um almoço. Servido na maioria dos hotéis e pousadas atualmente para mostrar bem a tradição do local, esse café era originalmente e ainda é consumido para alimentar bem os boiadeiros, no intuito de lhes dar energia para a labuta durante todo o dia. O Quebra-Torto consiste num pequeno banquete que inclui o arroz-de-carreteiro, a sopa paraguaia, mandioca, ovos fritos, bolos de fubá e mandioca, geléias, e para acompanhar, sucos, café e leite com açúcar queimado. 


Café Quebra-Torto

Além de todas essas delícias, a cozinha pantaneira não podia deixar de oferecer também iguarias doces. Sua principal sobremesa que não pode jamais faltar à mesa é o furrundu, que consiste num doce de mamão verde, feito com rapadura, cravo, gengibre e canela. Além deste, as frutas locais são bastante utilizadas, sendo as preparações mais comuns o sorvete de bocaiúva e o suco de guavira. E falando em bebida, além de sucos de frutas locais e o tradicional tereré, a tubaína, um tipo de refrigerante, é uma das mais apreciadas, e por conta da pressa e também da praticidade, há décadas é consumida de uma forma no mínimo curiosa: o vendedor despeja o conteúdo num saquinho e o consumidor bebe com um canudo. Curioso ou não, virou tradição.


Furrundu


Tubaína no saquinho

Com todas as suas particularidades, os estados de MT e MS são um pedacinho do Brasil que vale a pena se visitar! 

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