Por Gustavo de Paula Rocha Aguiar
No Rio Grande do Sul, estado fronteiriço com Argentina e Uruguai, destaca-se uma cultura gastronômica que sofre e sofreu as mais diversas influências. Inserido dentro do bioma denominado de Pampas, em que “sua vegetação campestre de grande riqueza e integração com as Florestas de Araucárias, aliadas à posição geográfica e relativas baixas temperaturas, criaram uma cultura culinária bem típica, com fortes influências coloniais e dos países fronteiriços (BRASIL, 2014)”.
Assim, destacam-se 3 grandes formações da culinária gaúcha: a cozinha de fronteira, a cozinha dos imigrantes e a cozinha tropeira.
O Rio Grande do Sul compartilha com os países com os quais faz fronteira (Argentina e Uruguai) uma culinária ligada aos pampas e a tradição pampeira. Dos grandes rebanhos que pastam os pampas gaúchos vem uma das principais tradições gastronômicas do estado: o churrasco. O churrasco gaúcho é realizado a partir de diversas partes do boi, além de linguiças, temperados com sal grosso, e assados no calor da brasa do carvão vegetal.
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Churrasco Campeiro |
A influência estrangeira na formação dos saberes gastronômicos do estado também foi muito forte. Entre os anos de 1875 e 1914, o Rio Grande do Sul recebeu aproximadamente 80 mil imigrantes italianos. As famílias de descendentes de italianos espalham por todo o estado a culinária daquele país, e hoje são considerados típicos na região preparações como polentas, massas, embutidos, bem como a tradição vinícola. Um das principais descendências italianas está na cidade de Caxias do Sul, que tem a culinária italiana tradicional como atrativo turístico. Destacam-se o galeto al primo canto, a polenta e a sopa de capelete.
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Galeto Al Primo Canto |
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Polenta Mole |
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Sopa de Capelete |
Outro grande movimento imigratório no Rio Grande do Sul foi o proveniente da Alemanha. Os alemães começam a chegar ao Brasil por volta do ano de 1824. Nos primeiros 50 anos de imigração, foram para o Rio Grande do Sul entre 20 e 28 mil alemães e a maioria se dedicava à colonização agrícola. Os descendentes dos imigrantes alemães mantém suas tradições culinárias nos dias atuais, com receitas com joelho de porco, salsichas, batatas, além do consumo de cerveja. Destaca-se o município de São Leopoldo, que possui raízes fortes na tradição alemã.
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Joelho de Porco |
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Salsichas Alemãs |
Por fim, os movimentos tropeiros moldaram boa parte da culinária gaúcha. Os tropeiros tiveram grande importância econômica no Brasil Colonial, principalmente nos séculos XVII e XVIII. Eles eram responsáveis pelo transporte e comércio de animais, bem como pelo comércio de alimentos, com destaque para o charque. Os tropeiros nessa época eram comuns e parte do cotidiano do sul do Brasil. Os gaúchos, com sua vestimenta típica de chapéus, ponchos, e botas, conduziam os rebanhos de gado e levavam alimentos e outras mercadorias do sul para São Paulo. De São Paulo, os animais e mercadorias poderiam também ir para os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.Da culinária tropeira vem o arroz do carreteiro, o feijão tropeiro, a comida de camboeiro (espécie de paçoca). O arroz de carreteiro é considerado típico do Rio Grande do Sul, mas como comida nômade, também está presente em todo o país, desde a Bahia, Goiás, Tocantins. No Nordeste, acaba por receber o nome de arroz Maria-Isabel, fato interessante, pois uma comida de homens, como eram os tropeiros, acaba adquirindo uma identidade feminina. (FILHO & DI GIOVANNI, 2000)
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Arroz de Carreteiro |
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Feijão Tropeiro |
Por todo sua carga histórica e destaque na cultura gaúcha, escolheu-se então as receitas destas duas preparações tropeiras para serem apresentadas ao leitor. Visite nosso livro de receitas aqui!
mate chimarrão
Depois da churrascada
Ao fogo e ao vento
O cavaleiro do gado
Trouxe ouro em pó
E uma cuia festiva
Para sorvermos a digestão
(Oswaldo de Andrade)
Referências
ANDRADE, Oswald. Obras completas (15 volumes). São Paulo: Globo, 1995.
BRASIL. Ministério da Cultura. Aromas, Cores & Sabores do Brasil. Disponível em: <http://www.copa2014.gov.br/sites/default/files/livreto_web17062013.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2014. Brasília, 2014.
CASCUDO, Luis da Câmara. História da alimentação no Brasil: Luís da Câmara Cascudo. 4. ed. São Paulo, SP: Global, 2011.
DÓRIA, Carlos Alberto. A formação da culinária brasileira. São Paulo, SP: Publifolha, 2009.
FILHO, Ivan Alves; DI GIOVANNI, Roberto. Cozinha Brasileira (Com recheio de história). Rio de Janeiro: Revan, 2000.
FREIXA, Dolores.; CHAVES, Guta. Gastronomia no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Ed. SENAC, 2012.
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